sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(11)

*Todos que me cercam proferem palavras contra mim. São xingamentos, ofensas de todos os tipos. Ofendem-me como se nada fosse. Como se essa humilhação que sofro fosse algo natural, pelo qual todos passaram. Mas ninguém sabe como me sinto. Ninguém sabe o que se passa na minha cabeça. Nem ao menos sabem por que estão fazendo isso comigo. Eu clamo por socorro, mas ninguém pode me ajudar. Eu clamo por ajuda mas, talvez, só eu possa fazê-lo.

Ele não pensou duas vezes quando viu aquele sujeito que tocou no seu ombro. Logo após virar-se para ver quem tinha tocado-o, começou a falar.

Ele precisava falar, queria falar, devia falar. Ele podia, então falou. Desabafou. Um desabafo profundo e sincero. Triste e melancólico, como todo desabafo sincero deve ser, exceto os movidos pela raiva. Ele contou toda sua vida, todos os seus problemas, tudo aquilo que lhe fazia mal.

Ele falava sem sequer olhar para os lados, sem perceber quantos carros passavam na rua ou em como era gostosa aquela loira oxigenada que passava do outro lado da rua. Seu instinto animal não estava mais funcionando porque ele precisava desabafar, contar para alguém seus problemas, suas angústias e tudo aquilo que estava lhe atrapalhando.

Mesmo quando o homem que lhe encostou no ombro e que agora era o seu melhor amigo, pois o ouvia sem xingá-lo ou julgá-lo, tentava indagar algo, ele não deixava. Pois não queria ouvir, estava cansado de ouvir, críticas, elogios, indagações, dicas ou mesmo conselhos. Estava cansado de ouvir desabafos como aquele que estava fazendo.

Angustiado, deprimido, atordoado. Perdido nos seus problemas, nas suas lamentações, nos seus desejos reprimidos. Não havia ninguém no mundo pior do que ele. Porque parecia que tudo estava contra ele. Parecia que todos riam dele, que todos achavam-no o pior dos seres humanos, a mais podre das maçãs, a mais deprimente das músicas da história do pagode, a mais fedorenta merda já posta no mundo por uma vaca.

O homem insistia em lhe dizer algo, mas ele não queria. E continuou falando. Por minutos. Horas até. Ninguém soube ao certo quanto tempo aquele homem ficou conversando com alguém que não conhecia, desabafando com um estranho, um homem que havia tocado seu ombro por...

Ficou curioso. Queria saber por que aquele homem, aquele santo homem que tanto o ajudara apenas por ter-lhe escutado os vários desabafos deprimidos, atordoados e raivosos. Queria saber por que alguém pararia para ouvir-lhe.

Então, aquele bom homem lhe disse, calmamente:
-Eu te toquei porque isso é um assalto.

Moral da história: nunca, mas nunca confie no coelho

3 comentários:

Natascha Oliveira disse...

Você é hor-rí-vel... Eu já tava aki, na maior vibe de tristez, as lágriams quase rolando... e era um assalto..

Só vc pra fazer esse tipo de coisa..
Não confio mais hein!!

ThiagoManfio disse...

Mehh vini , como tu consegue escrever esses textos , como consegue essa profundidade .

Taw disse...

rsrs...

"suspeitei desde o princípio"

xD

:-P