terça-feira, 11 de março de 2014

Pedaços de um pensamento (81)

Ouvi de alguém, talvez minha mãe, talvez uma professora do fundamental, talvez li de um escritor de auto ajuda, não sei ao certo, que poderia ser o que quisesse.

Essa frase, louvável no sentido motivacional e utópica e banal na realidade, não passa de escassas palavras no meio do furacão. Não que não devam ser ditas, não que sejam ofensivas ou destruam a vida de alguém mas... não é assim que as coisas acontecem, não é dessa forma que a vida é.

Jesus, em Mateus 7,7 , nos diz que 'Pedi e vos será dado'. O problema não é acreditar nessa frase. É real. O porém está na interpretação do como isso acontece. Querer não é poder. Nem tudo que peço me será dado porque nem tudo - na verdade, quase nada - do que peço me é necessário. E, conclui-se com naturalidade, que nem tudo o que busco ou almejo alcançarei. Por uma razão simples:

Não somos nada.

A gigantesca e impensável quantidade de condicionais que surgem a cada dia em nossas vidas muda, quase que a cada instante, nosso pensado, planejado ou imaginado futuro. Tudo é muito incerto porque a vida, em si, é uma incerteza enganadora. Quando parece que vai subir, cai. Quando achamos que vamos voar, cortam nossas asas - algumas vezes no sentido literal. Quando achamos que estamos no fundo do poço somos catapultados para uma alegria sem igual.

Não posso ser tudo o que quero ser. Nunca pude ser tudo o que queria ser. De jogador de futebol a bombeiro, de policial a piloto de avião. Tudo isso - e o resto - foi-me tirado a cada escolha que fiz. Nunca me faltou apoio ou empenho mas, sinceramente, hoje nada disso faria muito sentido. Nem o que hoje está encaminhado parece fazer muito sentido, que dirá as imaginações falhas do passado.

Deixo de computar, justificando pelos condicionais anteriormente citados, essas mudanças de planos ou sonhos como se fossem fracassos. Nem insanamente seria justo para comigo considerar que fracassei em todos os meus sonhos (até hoje), embora isso não deixe de ser uma clara e verdadeira consequência deles, os condicionantes diários.

Eles levam a culpa por tudo dar errado? Também não é assim.

Diretamente no importante, acreditar cegamente que tudo o que se quer é possível ter é entrar em um tiroteio sem colete à prova de balas. A chance de cair um tombo, dois ou duzentos, é grande. Achar que o mundo está aos pés - e dizer que tudo o que se quer ser é possível ser é, sim, achar que o mundo está inteiramente sob os próprios pés - é dos mais graves erros, uma vez que não há nada que garanta que, mesmo fazendo tudo o que é possível e contando com ajudas providenciais, é possível chegar exatamente onde se quer.

Os condicionais, os acasos e a simples existência de outras vidas, algumas com sonhos semelhantes ou iguais, acaba por tornar a hipotética conquista do querer uma hipocrisia egoísta.

Eu sim, os outros não.

Por que?

Errado, errado mesmo.

Creio num Deus que tem sonhos que ainda não consigo entender. Todas as improbabilidades e condicionais que mudaram meu passado, meu presente e que estão mudando a cada dia meu futuro, quero que converjam para onde Aquele que me criou quiser.

Lá estará minha felicidade, minha realização.

Lá estarei, sendo, não necessariamente o que quero mas, com certeza, tudo aquilo que preciso e posso ser.

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