terça-feira, 4 de março de 2014

O vazio de viver e só (47)

Ainda que a vida fosse mesmo, como algum poeta do tempo ido escreveu ou cantou, uma grande desilusão, não faria muito sentido escolher viver nela mesma apenas por isso. Talvez, se a vida não deixasse de ser uma ilusão, tivéssemos pessoas menos preocupadas com futilidades e banalidades escrotas, que afastam do que lhes é fundamental e intransferível.

Sendo uma ilusão, a vida seria cheia de beijos e abraços, de palavras suaves e gestos carinhosos, de olhares ternos e músicas que dariam significado aos movimentos - nada aleatórias e desconexas como o são atualmente. A ilusão seria doce por ter viventes alienados, desconectados do mundo lá fora. Sim, porque Deus nos livre de um mundo inteiro de ilusão. Mas a ilusão, dentro da realidade, é possível. Basta deixar de achar que os problemas do mundo são os nossos problemas, que os problemas dos outros são nossos problemas e, sem dúvida, que os nossos problemas são nossos problemas.

Problemas para que?

Viver iludido em um mundo ilusório, dentro do mundo real, seria interessante. Inegável isso. Fantasiar com uma vida que não se tem não é rejeitar a que se tem e sim achar que tudo poderia ser diferente. E tudo pode ser diferente sem ter aquele tom de auto ajuda que insistem em jogar-nos goela abaixo com livros, palestras e vídeos motivacionais.

Seria tão simples ignorar que há pessoas que passam fome, pessoas que são assaltadas, agredidas e mortas, pessoas que passam frio ou vivem em meio a uma guerra. Tão simples, também, esquecer dos problemas mais próximos, como a inveja, a falta de caridade, de compreensão, viver como se não houvesse preocupação alguma com o dinheiro, com como consegui-lo e como evitar que tudo não passe de um grade caos.

Tudo desconexo não por acaso. A ilusão, em si, é desconexa, é imaginária, é meramente para alienados e, feliz ou infelizmente, não por muito tempo.

Ninguém nos mandou viver em um mundo onde os problemas do mundo são nossos problemas. Onde o nosso grão de areia pode fazer a diferença. Continuar com isso seria copiar qualquer livro banal publicado com o intuito, ilusório, de ajudar.

As minhas palavras não podem ajudar alguém. 

Ao menos hoje, não.

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