sexta-feira, 29 de julho de 2011

Histórias do Billi J. - Há um final? Não, há um amor


- Amor.

- Oi.

- Já parou para pensar que isso pode um dia acabar?

Billi e Renata estavam sentados no sofá, em um daqueles momentos que tanto faz o que está passando na televisão, se está chovendo canivete ou se algum primo chato está no outro sofá comentando tudo sobre o que sua mãe disse de outras pessoas quando estava no cabeleireiro. Não há como se surpreender com uma pergunta daquelas, vinda de uma Renata que sempre indagou sobre tudo. Ainda assim, Billi não queria entrar no mérito da questão e tentou não levar adiante o assunto. Afinal, estava tão bom como estava, por que fazer perguntas que não acrescentam nada?

- Rê, sabe, em qual final você acha que eu deveria pensar?

- Não é no fim, mas na possibilidade de fim.

- Do que?

- Disso tudo.

- Disso?

- É, o namoro, o amor, sei lá, a nossa relação próxima...

- E por que teria que acabar?

- Não é você que diz que tudo tem um fim?

- Mas é diferente.

Para quem não queria estender o assunto, ele percebeu após dizer 'é diferente' que uma longa explicação seria necessária para acalmar a inquietude dela.

- Diferente como?

- Nos conhecemos há muito tempo, não acho que no nosso caso vai ter um fim.

- E se você ou eu conhecermos alguém que mexa conosco de um jeito diferente?

- Uma nova paixão?

- Ou um novo amor.

- Olha, passamos anos longe um do outro e até imaginei estar apaixonado uma ou duas vezes mas... sabe, é diferente. Não me vi, em momento algum, querendo estar do lado de outras pessoas como quero estar ao seu lado.

- E se eu não quiser mais?

- Vai ser difícil mas, quero que você seja feliz, acima de qualquer felicidade própria.

- Você fugiu da minha pergunta. Você já pensou que pode acabar?

- Penso agora. O namoro pode acabar, podemos nos afastar, ficar sem conversar, sem ver um ao outro...

- Então tudo tem um fim, mesmo.

- Inquieta, calma! Você não me deixou dizer que, apesar de imaginar que possa não estar ao seu lado para sempre, jamais imagino, porque não creio que exista essa possibilidade, que possa amar alguém como amo você.

- Como não existe essa possibilidade?

- Já faz tanto tempo que te conheço que... bom, desde que te conheci me senti diferente. Pequeno e ingênuo, não sabia o que acontecia mas sempre sorria quando te via. O tempo foi passando e, com crescimento e maturidade, percebo que não amo você porque você é linda, porque é simpática, porque é inteligente, engraçada, dedicada e tudo mais. Ou melhor, amo você também por isso, mas não principalmente, entende?

- Então me ama por que?

- Quero que você seja feliz, que realize sonhos, que esteja sempre bem. Me preocupo mais com você do que comigo, não tenho dúvidas disso. E eu amo você porque eu amo você, não existe condicional, característica ou explicação. Amor é uma coisa estranha porque com o tempo você distingue ele de encantamento, paixão, carinho e do gostar. Eu amo você, Renata, não tem um porque dissertado ou explicado. Não tenho condicional, não tenho razão, tenho apenas um sentimento sincero, único, grande, simples e puro.

Billi percebeu que, enquanto falava, Renata não apenas ouvia, como sentia cada palavra que ele dizia.

- Muita gente me disse, sempre, que não daria certo, que éramos muito diferentes, que eu era...

- ... boa demais pra mim, bonita demais pra mim, inteligente demais pra mim?
- Isso. Nenhum deles sabe o quanto eu senti a sua falta estando tanto tempo na Inglaterra. Você me disse uma vez, por telefone, que me esperaria o tempo que fosse preciso, se eu te pedisse.

- Sim.

- E por muito tempo quis te pedir mas não queria te prender. Eu precisava de você mas não podia te amarrar a mim sem saber sequer se voltaria para cá.

Enquanto Renata falava, Billi a olhava como se estivessem se encontrando depois de muito tempo longes um do outro.

- Só que...

Renata ficou em silêncio.

- Só que o que?

- Você sabe que eu pedi para que você esperasse por mim.

- Sim.

- E você nunca pensou que poderia não dar certo e que poderia estar perdendo tempo de conhecer uma pessoa que te desse todo o amor que eu não podia te dar por estar longe?

- Não, nunca pensei. Depois que você me disse 'espera por mim' eu não consegui mais me aproximar de ninguém de um jeito mais íntimo do que simples amizade.

- E se não desse certo?
- As coisas tem um tempo certo. Por sentir por você algo que tinha, e tenho, certeza que nunca sentiria por ninguém, aceitei esperar e com isso o amor foi amadurecendo. A espera é difícil mas é um obstáculo muito pequeno quando há amor, de verdade. Esperaria muito mais tempo, se fosse preciso. Eu amo você, Renata, isso não vai mudar. Nem com tempo, nem com a distância.

- Eu sei, já teria mudado, se fosse possível. Eu amo você, meu amor.

Aquela tarde monótona, aquela televisão inútil, aquele primo chato, nada disso parecia existir. Estavam um ao lado do outro e os olhares se encontravam para logo em seguida tomarem a mesma direção. Os olhos se abriam e se fechavam. Ao mesmo tempo, com a mesma velocidade, nas mesmas direções. 

Sabe-se lá como descrever o que existia entre eles.

Um comentário:

Adriana disse...

Pela maneira como você escreveu, entendo que não seja o seu caso essa espera bem sucedida. Talvez você esteja esperando por alguém sem ter a certeza de que esse alguém também espera por você. Felizmente também é visível que você escreve com propriedade sobre o amor e só aquele que ama, de maneira pura e sincera, pode escrever como você escreveu.

Talvez seja um sonho seu, uma vontade sua que essa sua possível espera se concretize com sucesso, que você possa então estar com a pessoa que ama. Talvez, as possibilidades são muitas e a sua escrita deixa espaço para muitas possibilidades.

Que você possa conseguir, por esse amor que sente, vivê-lo não só através de um personagem.

Aliás, é autobiográfico?