segunda-feira, 27 de junho de 2011

Histórias de uma vida não vivida (36)



*Enquanto eu aqui, caminho olhando para meus pés, perco de vista o Sol que tenta me aquecer nesta tarde de 4º no termômetro e, com um mísero vento, sensação muito abaixo disso. Não há muito o que possa ver nesse chão, nessas pedras, nessa grama. Não há muito a ver também se olhar para frente. Esbarrar em alguém e ter, por educação, de pedir desculpas não traz preocupação. Enquanto o mundo gira, os dias passam e o Sol, longe daqui, tenta se mostrar presente, depois de dias tão nublados quanto meus pensamentos, eu continuo caminhando olhando para meus pés. O tênis preto disfarça a sujeira e a minha expressão de poucos amigos indica que meu ânimo está tão sujo quanto. Dias tão próximos e tão bons não conseguem mais reverter uma sequência que, agora, admito ser inevitável. Pequenos nadas, pequenas ausências, pequenos deixares de palavras, quem sabe algo mais. Desculpe-me, calor, estou frio demais.

Quando todos que estavam ao meu lado naquele círculo fecharam os olhos e concentraram-se apenas na música, senti que era a minha hora de sair dali. Não conseguiria prender por muito mais tempo essa agonia que tomou conta dos meus pensamentos. Difícil lembrar e entender qual ideia em si provocou tudo isso. Se fosse o passado, estaria rindo agora. O problema é que isso vem de agora, vem do presente, do hoje e de alguns ontens não muito distantes. Felizmente estava apenas com as meias nos pés então, quando levantei, ninguém me ouviu. A música era linda, incrível, os pensamentos de todos deveriam estar sobrevoando os céus de seus sonhos, de seus amores, de toda a vida, não havia como repararem nos mínimos ruídos de estalos dos meus tornozelos.

Caminhei até o fundo da sala, a garganta parecia estar inchada, como se estivesse sufocando com alguma bola de isopor ou coisa semelhante. Por mais que voltasse a ouvir, mentalmente, a música, não conseguia tirar dos pensamentos flutuantes aquilo que era o principal motivo de minha angústia, dessa agonia irritante, insensível ao momento alheio. O que eu fiz? Por que pareço não merecer mais nada daquilo que algum dia já tive? Sou eu, apenas eu? Que culpa poderia ter por apenas... não há razão para tentar explicar para minha própria mente, ela não entenderia.

Porque eu não entendo.

Chegando ao fundo da sala, encostei-me com calma na parede e fui escorregando até o chão enquanto olhava para as outras pessoas. Repito, a música é incrível mas...

Dobrei meus joelhos e os trouxe contra meu peito. Os segurei com força com meus braços inexplicavelmente trêmulos. Uma última olhada para ter certeza de que ninguém havia notado-me e então pude sentir algum alívio quando encostei minha cabeça em meus joelhos, fechando meus olhos para o que minha mente não cansava de me mostrar.

E desse jeito permaneci.

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