domingo, 8 de fevereiro de 2015

Pedaços de um pensamento (94)

Já não sei precisar quando essa bagunça toda começou. Minha busca pelo silêncio ganhou um aliado forte, e caro, mas parece que vai levar um bom tempo ainda para que o ambiente esteja apaziguado e o silêncio passe a imperar. Vivendo em uma outra realidade, tento encontrar conexões interiores que permitam à minha existência ser dona de uma felicidade ainda desconhecida, plena, capaz de mudar um mundo, mesmo que seja apenas o meu.

Não encontro silêncio algum, nos pensamentos, nas palavras não ditas, nos olhares não trocados ou nos inúmeros passos que, em determinado ponto, cruzam a linha invisível do prazer e se esborracham no solo do cansaço. As noites mal dormidas, sempre com muito barulho em meio ao silêncio das madrugadas quentes, e de céu azul-escuro-quase-preto, tornam ainda mais difícil a busca, a procura e, por consequência, o encontro daquele estado definitivo e decisivo em que o silêncio que propicia a reflexão e a serenidade que a levam para dentro de mim, permitindo-me, por fim, chegar onde tenho esperado nesses últimos, vai lá, cinco anos.

A rotina de dias que começam na sexta hora e não tem momento específico para terminar é cansativa, evidentemente, mas permite que o silêncio exterior seja possível, mesmo que por pouco tempo e, por não haver correspondência interna, inútil num todo.

O olhar alheio, daqueles que, como eu, caminham por alguma necessidade em horário tão precoce do dia longo que haverá de ser é diferente quando há um silêncio exterior no entorno. Parece que as pessoas são mais gentis, mais alegres, mais educadas e receptivas logo que o dia começa, antes do dia propriamente dito começar ou, no caso de alguns específicos, ao final de um dia monótono ou extremamente agitado. Parece, e acaba sendo, uma verdade curiosa esse contato humano com desconhecidos. A educação que leva ao cumprimento é suficiente para que rostos sérios e fechados abram um sorriso simples e intenso, mesmo que de curtíssima duração.

O silêncio que procuro conscientemente é o mesmo que as pessoas, que abrem suas bocas para retribuir meu cumprimento matinal, procuram, mesmo que não saibam ao certo o quê estão procurando. Como uma Verdade em meio ao nosso lamaçal de mentiras vazias, procuram a oportunidade para olhar para dentro e encontrar um alívio para tudo o que há de fardo sendo carregado por corpo e mente cansados da rotina, aquela mesma que dá a oportunidade de, a cada manhã, deparar-se com o silêncio de uma caminhada longa por entre um resquício verde no meio do cinza poluído das ruas.

Elas procuram sem saber. E talvez encontrem. Eu procuro desesperada e objetivamente, sem nada encontrar.

O silêncio, que permite uma educação singela, é o mesmo que poderia dar-me a condição de fazer as últimas escolhas que ainda restam para a formação definitiva pela qual preciso passar.

Falta um pouco de quase tudo. Falta muito do nada que é o silêncio.

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