sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Reflexões de um maluco (23)

A vida, por si só, é uma grande ironia.

Você sabe quando começou, mais ou menos. Sabe de onde veio. Sabe se foi ou não planejada a sua vinda - ou, ao menos, esperada. E sabe que tudo na vida tem um começo. O problema, então, passa a ser o final, e aí é que, antes dele, faz-se presente a ironia. Você não sabe quando é. Como será. Se verá ou não e, se tiver olhos ou tato para isso, como será. Talvez não seja tão claro mas você sabe do princípio com certeza, mesmo que não lembre de nada. E não sabe nada sobre quando tudo isso terminará. O meio do caminho, a vida em si - que é tudo entre a concepção e o último batimento cardíaco - é uma ironia por consequência de seu início e fim um tanto imaginativos.

E quase nada racionais.

Durante a existência há inúmeras possibilidades e elas só aumentam quando escolhas são feitas. São muitas palavras para pouco dizer, muita história para pouco personagem e, entretanto, algo continua aqui. Sem muita semelhança com o que chamamos de vida mas, ainda assim, cheio de ironias que para alguns são doces e para outros são amargas. Insisto em dizer sem dizer, em escrever sem significar porque não existem muitas coisas com ironias tão claras quanto textos que dizem muito sem dizer nada.

É como, bom, deixa pra lá. Os exemplos não deixam clara a ironia, apenas a confusão ou falta de qualquer coisa - ou melhor, de tudo.

Por fim, até que enfim, irônico, além da vida vivida - e daquela imaginada - há um balaio de situações que não fazem sentido. Como, por exemplo, tentar entender o que existe ou acontece e, e alguma forma, ver uma explicação vencendo uma loteria mas no cartão de apostas de outra pessoa. Ninguém mandou riscar os números e não apostar. Tampouco houve alguém que quis ganhar sem jogar. Das impossibilidades surgem certezas e essas são jogadas diante dos olhos como se significassem tudo, porque acabam significando mesmo tudo, ao passo que pareciam ser apenas um mero detalhe, casual, inútil e desconfortável.

Como sentar no concreto e ver alguém marcando o gol que você deveria marcar, comemorando uma vitória que deveria ser sua e, principalmente, dando a entender que a culpa de que tudo isso, que deveria ser seu, ocorra diante dos seus olhos mas na vida de outra pessoa.

Irônico como ver uma dondoca passeando com seu poodle cuidado com shampoo importado mas amarrado em um fio de luz.

Apaguem as luzes, o piloto está com enjoo.

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