terça-feira, 19 de agosto de 2014

Pedaços de um pensamento (89)

Acordei procurando uma sensação. Uma prova. Uma completa, mesmo que singela, demonstração que objetivamente mostrasse que ainda não havia nada perdido. Cansado, levantei e fui ao banheiro. Lavei o rosto e nada. Escovei os dentes e nada. Usei o vaso sanitário e nada.

Voltei para o quarto, troquei de roupa, coloquei meias e tênis, o crucifixo no pescoço, o relógio no pulso e, nada. Tudo isso faço quando sonho. Tudo isso faço em pensamento. Ou, ao menos, posso fazer. São coisas vagas. Rotinas vagas. O sonho, aquele que surge inconsciente, por algum motivo que ninguém sabe explicar - se é que o há -, pode muito bem retratar situações rotineiras.

O que nos prova que nossa vida não é um grande sonho? Que nossa existência minúscula não é apenas um momento de hibernação e que, a qualquer momento, vamos acordar em um corpo que não parecerá ser o nosso? O que, parecendo, estará vivendo uma vida diferente dessa?

Como esse pensamento, que foi transformado em palavras escritas, pode ser confundido com algo do espiritismo - não sei se vai, mas pode - e, claro, como quero manter minha vida longe disso, tive que procurar melhor. Olhei na janela e a veneziana parecia estar chorando. Como as paredes não o estavam também, a tal da 'umidade' não era desculpa. Fisicamente, havia água escorrendo ali porque no quarto havia uma fonte de calor que, encostando na veneziana - fria por conta da temperatura externa -, condensava a água que ali havia.

A fonte de calor era o meu corpo. E como ninguém sonha que a veneziana está suando por conta do 'calor' do quarto, pude concluir então que estou vivo e que isso não é um sonho.

Vida!

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