Acordei procurando uma sensação. Uma prova. Uma completa, mesmo que singela, demonstração que objetivamente mostrasse que ainda não havia nada perdido. Cansado, levantei e fui ao banheiro. Lavei o rosto e nada. Escovei os dentes e nada. Usei o vaso sanitário e nada.
Voltei para o quarto, troquei de roupa, coloquei meias e tênis, o crucifixo no pescoço, o relógio no pulso e, nada. Tudo isso faço quando sonho. Tudo isso faço em pensamento. Ou, ao menos, posso fazer. São coisas vagas. Rotinas vagas. O sonho, aquele que surge inconsciente, por algum motivo que ninguém sabe explicar - se é que o há -, pode muito bem retratar situações rotineiras.
O que nos prova que nossa vida não é um grande sonho? Que nossa existência minúscula não é apenas um momento de hibernação e que, a qualquer momento, vamos acordar em um corpo que não parecerá ser o nosso? O que, parecendo, estará vivendo uma vida diferente dessa?
Como esse pensamento, que foi transformado em palavras escritas, pode ser confundido com algo do espiritismo - não sei se vai, mas pode - e, claro, como quero manter minha vida longe disso, tive que procurar melhor. Olhei na janela e a veneziana parecia estar chorando. Como as paredes não o estavam também, a tal da 'umidade' não era desculpa. Fisicamente, havia água escorrendo ali porque no quarto havia uma fonte de calor que, encostando na veneziana - fria por conta da temperatura externa -, condensava a água que ali havia.
A fonte de calor era o meu corpo. E como ninguém sonha que a veneziana está suando por conta do 'calor' do quarto, pude concluir então que estou vivo e que isso não é um sonho.
Vida!
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