segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Pedaços de um pensamento (90)


Há algo nas palavras que saem do coração, como cantaram por aí algum dia, que encanta e faz até o mais cético dos homens repensar sua existência racional e, imaginariamente, autoexplicativa. Procurando por respostas não se chega a lugar algum. Procurando pelas perguntas, idem. Somos ínfimos, insignificantes diante da multidão humana, da imensidão da existência do universo e, creio eu, somos menos do que nada - caso isso seja possível - diante do Criador.

Acreditando ou não em Alguém como fonte primária de tudo o que há - inclusive do próprio tempo - haverá de concordar, senhor ou senhorita, que nossa mente nunca chegará longe o suficiente para saber coisa alguma. Procura-se algum ideal, justiça, lealdade, prosperidade ou caridade através de algum valor, como coragem, persistência ou humildade. Procuram-se diversas outras coisas e, no fim, tudo o que somos, tudo o que fomos, o que seremos e o que almejamos, ou mesmo as coisas das quais desistimos, e, mesmo somando tudo isso não somos nada. Nunca seremos nada.

Nossas perguntas são insignificantes. 'De onde viemos?' importa mesmo em um mundo onde um ser humano lhe pede um pedaço de pão pois está há dias sem comer? Tantas outras perguntas não significam nada quando batemo-las de frente com a realidade. Da mesma forma, pela outra ponta da linha desse raciocínio improvisado - como tudo o que há em minha mente há anos -, a realidade torna-se um grande nada quando confrontada com frases como 'o mundo precisa de mais pessoas como você'.

E tudo isso ainda é pouco, é nada, irrelevante.

Palavras são irrelevantes. A vida é feita de coisas irrelevantes. Porque não somos nada, lembra?

Concordando ou não com isso, acreditar que somos algo além de nada é possível e justificável. 'Só posso viver uma vida então, como não posso ser algo além de nada, esse meu nada é tudo. O meu tudo'. Boa forma de pensar. Talvez seja egoísta. Talvez realista. Ou apenas algo para encerrar um assunto incômodo onde todos podem falar algo e, at the same time, estarem errados.

Quando olho para trás e vejo minha insignificância perto de outros seres humanos, de outras situações, de outras vidas e, claro, de outros sentimentos, percebo que há algo lá que não há mais hoje. Uma vontade de mostrar o que se é pensando que 'ninguém sabe como é', 'ninguém é capaz de entender', e um arrogante 'tenho que ensinar porque ninguém sabe disso'. Vontade essa que não existe mais.

Porque havia algo que transladava as boas intenções, jogando-as entre as más. Havia algo que tirava a inocência de busca implacável pelo que é bem e colocava suaves e imperceptíveis doses de mal nela. Havia algo que fazia transparecer a raiva, a decepção, as dores de um passado recente e a culminada arrogância presente.

Haviam as palavras doces de sonhos, verdes, inacabados. Haviam as palavras das decepções com as próprias falhas.

Houve, também, uma queda brusca na satisfação pessoal, sendo necessários anos para reconhecer que ainda estou longe de onde quero estar. Pessoalmente falando.

Não um lugar, mas uma pessoa.

Talvez seja hora de recomeçar em outro lugar. Com outras histórias. Com uma nova visão. Com novas intenções. Com palavras diferentes e uma mentalidade nova, madura e humilde.

Porém é difícil fazer o novo acontecer. Deixar que ele venha e se faça realidade na prática.

O jeito é levar parte do passado comigo. Parte das palavras que, embora tenham rareado, ainda fazem do passado algo que, apesar de ser quase todo irrelevante, mostrar muito do que quis e consegui ser.

E do que quis e não consegui conquistar.

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