domingo, 12 de janeiro de 2014

O vazio de viver e só (46) - A indiferença (1)

Há situações que só o tempo, muito dele, é capaz de trazer à tona juntamente com a resposta. A momentânea falta de explicação, inclusive para atitudes próprias, gera impaciência e decepção, tristeza e ansiedade que se manifestam simultânea ou isoladamente durante dias, meses e anos, até que haja um esquecimento pela falta de vontade na busca pelas devidas explicações - que geralmente estão longe de ser meramente superficiais - ou mesmo pelo entendimento de toda a situação passada.

É preciso distanciar-se do local, do momento e do contexto vistos com os próprios olhos - algo que o tempo, por si só, é o único elemento que consegue fazê-lo - para entender, e aceitar, que o auto conhecimento nem sempre é suficiente para definir e explicar - até, quem sabe, justificar - determinados atos, graves, falhos ou simplesmente inexplicáveis.

Não é preciso citar um exemplo pessoal e, enfim, não sou uma pessoa pública cuja vida é de interesse geral, portanto não há necessidade de trazer à tona quaisquer origem para a conclusão a ser desenvolvida aqui.

Quem olha para o passado com medo, desprezo, raiva, indiferença ou nostalgia pura está cometendo um erro grave porque acaba deixando passar uma oportunidade de conhecer-se muito mais, já que o passado explica para que o futuro seja construído - embora muitos, ditos positivistas e futuristas, digam que o passado não serve para nada e deve ser esquecido imediatamente após o começo de sua existência como tempo já vivido.

É do passado, escreveu algum grande pensador irlandês, que se tira o sustento para um futuro sólido e sem grandes percalços oriundos de imprevistos desconhecidos. Se o que já aconteceu, em algum outro momento ou mesmo vida, vai acontecer novamente, por que não estar ciente de como explicar e, por que não, superar sem perdas?

Relações incontáveis são destruídas todos os dias por não haver sequer vontade de entender o que se passou e por que o ocorrido tomou determinado rumo. Erro grave.

Toda essa introdução, por si só, vem para tentar trazer à tona, do mais profundo da minha inquieta mente, que há anos venho tendo atitudes insanas, que destruíram aos poucos amizades, afeições e sonhos, sem saber ao certo o porquê delas surgirem e tomarem forma mesmo em meio a toda sensatez e tranquilidade que, em maioria absoluta do tempo, regem aquilo que envolve o meu ser com outras pessoas e, até mesmo, comigo.

Tantas foram as vezes em que me vi sem argumentos para minhas próprias indagações a respeito de todas as consequências das minhas escolhas e seus respectivos atos. Com ou sem palavras. Não fazia sentido ter feito, ou falado, o que fiz. Como faz pouco sentido o que hoje atormenta. Mas não sou capaz, e nunca fui, de ver o mundo, a minha vida e seus relacionamentos sociais, com um distanciamento que só o tempo é capaz de oferecer.

Grande parte desses erros consigo explicar, apenas hoje, como fruto de uma noite que insiste em envolver todo meu ser. Essa escuridão toda vem tirando de mim sorrisos, espontaneidade, percepção e colocação em outro eu, que não o meu, há anos e só as primeiras dessas atitudes, que hoje reconheço terem sido medonhas, são claramente explicadas -repito incansavelmente - hoje, por essa noite, fria, escura e passivamente opressora.

(...)

Nenhum comentário: