segunda-feira, 1 de abril de 2013

Pedaços de um pensamento (74)


Quis, por muito tempo, voltar a um estado onde qualquer sentimento era transformado em palavra, qualquer imagem era transformada em frase e qualquer sentimento originava um parágrafo, ou mesmo um texto. Quis, de verdade, voltar a transcrever com sinceridade e espontaneidade tudo o que estava acontecendo embora, reconhecendo a mudança de situação momentânea para uma completamente diferente, aceitasse o fato de não conseguir mais ter parte de mim tão presente, pois dava a esse pedaço de papel virtual - e consequentemente ao verbo escrever - uma importância significativa em uma personalidade ainda indefinida.

O que era, ficou. Deixei de querer voltar àqueles fragmentos, por vezes surtados, de espontaneidade e sinceridade - essa, vista hoje, um tanto superficial (embora verdadeira) - por perceber que isso morreu, esse hábito, essa prática, esse gosto e, enfim, essa coisa toda de trazer a realidade, de forma inconclusiva e confusa - na maioria das vezes - faz parte do passado. O gosto pelo verbo escrever continua, com uma alteração significativa no produto final: profundidade.

Dizer que não foi nada é, de alguma forma, cuspir em um prato no qual saboreei uma deliciosa lasanha. Acontece que, e isso explica o porquê de ter chamado de rasa a sinceridade no parágrafo anterior, o passado fica gravado na memória, faz parte da história mas quando é assim, o certo a fazer é deixá-lo morrer. Assim como a origem de boa parte dos meus escritos espontâneos - e, confesso, bonitos - o transcrever toda realidade e imaginação para cá também é passado. Agonizante passado.

Que precisa descansar em paz na história, no ontem, e penso que há algumas semanas o tenho deixado apodrecer embaixo da terra. Deixar morrer não é renegar o que aconteceu ou insinuar que, nesse caso, trazer a vida e a imaginação para cá sempre fora um erro. Jamais. Acontece que isso passou. Esse hábito precisa morrer para que novidades surjam e, quem sabe, até mesmo consiga levar minhas palavras a um nível mais significativo aos olhos dos outros - uma vez que considero que apenas os meus conseguem ver algum sentido nisso tudo.

Deixar aquela ideia de voltar ao passado, no escrever, é deixar também - e definitivamente - a origem de grande parte disso. De maneira alguma é sensato pensar que, desde aquele tempo, tudo gira em torno do passado e que ele ainda faz parte do presente. Não. A lamentação pela ausência de palavras espontâneas leva, invariavelmente, ao que gerava-as no passado. E isso não é ruim, apenas um erro infantil pois aquele passado não faz parte do presente há um enorme tempo.

Sentimentos surgem, paixões diversas aparecem e, assim como amizades, são transitórias. A vida é passageira pois o tempo é linear e não perdoa descuidos. Ele passa. A história foi escrita e estará sempre gravada entretanto só é permitido continuar escrevendo-a, acrescentando capítulos e novos personagens, quando capítulos anteriores são encerrados e personagens antigos - e fora de todo o contexto do presente da história - deixam de ser arrastados, agonizantes, para frente.

Estou feliz por, finalmente, ter deixado de querer escrever como em tempos atrás. Aqueles capítulos passavam, as semelhanças não passam de meras coincidências e...

... bom mesmo é saber que não preciso de mais tempo para ter certeza de tudo o que quero, e preciso, escrever nesse capítulo.

Capítulo que promete ser o mais difícil dessa história. Mais responsabilidades, exigências, preocupações. Mas também será o melhor porque o pouco tempo, até agora, já foi o suficiente para saber que a sinceridade não é rasa.

Assim como a espontaneidade, embora ainda pouca, não existe por si só. O motivo é diferente, o amor é diferente, a alegria é diferente. Amor mais intenso, que requer mais de mim.

Amor que requer, e merece, palavras melhores. Um eu melhor.

Obrigado ao Amor pelo amor que me fez voltar a sorrir... espontaneamente ao longo dos dias.

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