segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Histórias de uma vida não vivida (69)


*Nem todo sonho expressa um desejo inconsciente ou reprimido. Seria loucura se desejássemos certas coisas que aparecem em nossos sonhos. Contudo quando um sonho dá vida, do seu jeito, a um sentimento verdadeiro e a um desejo puro do coração, não existe nada que possa superá-lo como origem de um sorriso bobo pela manhã.

Estava sentado no chão, olhando um pouco entediado para o marco da porta e pensando em como havia sido mal colocado, quando ouviu sua voz. 

- Vem para cima, senta aqui na cama. 

Era bom, pensava, estar em um lugar assim e ter a oportunidade de vê-la tão próximo. Sentia-Se um privilegiado por acreditar que ali encontrava em pedaço de céu, terreno. Na verdadé era difícil não imaginar que, se Deus permitisse, faria de tudo para alcançar o próprio Céu ao lado dela.

Esse raciocínio ocupou sua mente enquanto levantava o corpo, sentado no chão, e o colocava sobre o final da cama, ficando de frente para ela. 

- Oi! - disse ele ao vê-la, com um sorriso bobo nos lábios e as sobrancelhas erguidas,  como quem acaba de receber uma surpresa boa.

- Oi.  - respondeu ela em um tom tímido, olhando para baixo como se estivesse com vergonha de algo que fizera. 

- O que foi? - perguntou ele, tentando lembrar-se de alguma palavra dita que possa tê-la perturbado.

-Eu sei que você me pediu para não fazer mas...

Ele sentiu o coração quase parar, esfriar com a sensação de que uma hecatombe era iminente. Ainda assim tentou fingir tranquilidade, maturidade, evitando transparecer seus medos infantis. 

- ... eu li a dedicatória que você escreveu no livro que me deu de presente. 

Não conseguiu evitar o olhar irônico, daqueles que só um bom emoticon é capaz de representar. 'É sério? Só isso?' pensou enquanto tentava encontrar uma forma de conter o sorriso bobo, e aliviado, uma vez que havia concluído antes que a dedicatória era a melhor coisa que já havia escrito na vida. 

- O que foi? - agora ela parecia preocupada, ou um pouco perplexa com a reação dele. 

- Achei write fosse algo gigantesco, ou terrível, o que você havia feito. 

- Mas quantas coisas você me pediu para não fazer? 

Ficou em silêncio. Pensou. Viu-a sorrindo. Riu. 

- Você está certa. 

Ela manteve o sorriso, deixando ainda mais visível as covinhas nas bochechas. Então aproximou-se dele all arrastar o corpo pela cama, encostando o travesseiro na parede ao lado. Ele, por sua vez, parecia cada vez mais encantado com ela. 

- Não está chateado comigo? - agora seu tom era mais calmo, suave. 

- Não. Estaria se você tivesse rasgado e queimado a dedicatória. - a mudança no tom de voz dela parecia ter trazido a ele uma paz que nunca havia sentido.

- E quem disse que não fiz isso? 

Bingo.  Ela riu.  Ele sorriu, tentando manter o controle de seus impulsos e evitar perguntar o que ela havia achado da dedicatória. 

- E... - ela começou - achei incrível o que você escreveu. 

Ele não conseguiu conter o sorriso cada vez mais bobo. Ela percebeu dia alegria e continuou a falar,  aproximando-se um pouco mais, o que certamente trouxe a ele um caos interior que todos gostam de sentir. 

- Achei incrível o quite você escreveu. Mais do que isso, na verdade. Uma pena que não consiga encontrar uma palavra que represente o que quero dizer. 

Ele pensou por um momento. Olhou para ela e sentiu um imenso frio no estômago quando seus olhares se encontraram. 

- Você talvez goste de su...

Ela moveu-se par a frente, interrompendo-o, e encostou seu lábios nos dele. De olhos fechados, não viu que ele pareceu espantado, depois como se tivesse recebido uma doce surpresa para, então, também fechar os olhos. Aí pode sentir que todas as escolhas que fizera Até então haviam sido justificadas, embora nenhum deles tenha tido coragem para transformar aquele gesto singelo em um beijo.

Pareceram segundos intermináveis, ao menos para ele, até que inclinou um pouco a cabeça para trás, quando ela então trouxe de volta o corpo para junto do travesseiro encostado na parede. Ele, por sua vez, abriu os olhos e, olhando-a, apenas balbuciou, em um tom quase inaudível. 

-... blime.

Olharam-se por alguns segundos, surpresos, alegres e ao mesmo tempo preocupados. O silêncio desapareceu Quando ambos tentaram falar. 

- Eu...

Pararam. Trocaram sorrisos cada vez mais envergonhados. Ela ergueu a mão, fazendo um sinal para que ele a deixa-se falar. 

- Desculpa,  eu sei que...

- Tudo...

Ela ergueu a mão novamente. Ele parou de falar. 

- Desculpa. Eu não acho que seja bom para você...

Ele então repetiu o gesto com a mão, e falou após o silêncio dela. 

- Isso é complicado mas estou fazendo o possível para lidar bem com isso. Não vou me empolgar e achar que isso é um sim da sua parte...

Ela o interrompeu.

- Como também não foi um não. 

Perplexa, viu-o sorrir, tentando entender por que havia dito aquilo sem pensar. Baixou a cabeça, envergonhada.

- Que bom. Estou aprendendo a esperar porque sei que, se algo acontecer, terá valido cada esforço feito. 

Ela sorriu.

- Mas...

- O quê?

- Sublime

Ela sorriu. 

- Era sublime a palavra que eu estava tentando dizer. Se encaixa no que você quis descrever? 

Por um momento ela pensou em xingá-lo, achando que ele não estava tentando descrever e sim, apenas encontrar uma palavra... Não. Ele não estava rindo. Estava sorrindo. Como quem mostra algo que não quer evidenciar para não...

Então ela sorriu, percebendo que ele apenas estava procurando uma forma de dizer algo que ela tentou falar quando encostou seus lábios nos dele. 

- Sim, sublime é uma boa palavra - disse ela, sorrindo, enquanto fazia com que seus olhares se encontrassem mais uma vez.

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