sábado, 13 de setembro de 2014

O vazio de viver e só (53)

'Lembro que depois de ouvi-lo, consegui dizer, apenas...

- Amigo, o amor, em si, é idiota. Porque é mais importante fazer alguém feliz do que ser feito feliz. E sendo fonte de felicidade para alguém, você cresce, evolui, torna-se alguém melhor. Mesmo que viva para o resto da vida infeliz. Você é, mas para alguém, não para si.

Ele então parou de estalar os dedos. Secou algumas das muitas lágrimas que escorreram pelo seu rosto e parou. Permaneci calado, a espera do que ele diria. Talvez voltasse a chorar, talvez começasse a gritar ou talvez, e até muito provavelmente, me chamaria de idiota, insensível, estúpido e utópico, ou algo do tipo. Talvez me chamasse de hipócrita. Em vez de encher a boca de xingamentos, levantou a cabeça e fazendo com que seus olhos encontrassem os meus, acertou-me um balaço no meio da testa.

 - Você prestou atenção no que disse? Você acredita no que acabou de me dizer?

Na testa. No olho, No meio do peito. Ou em todos os lugares ao mesmo tempo. Rambo passou por aqui, pensei - em um daqueles momentos em que não sinto orgulho do meu senso de humor.

- Eu...

Hesitei.

- Eu sabia. Você nem sabe do que está falando. Tirou essa frase de onde? Lewis? Dostoiévski? Hemingway?

- Eu não...

- Ah, sim, Bukowski. Um porco tão medíocre quanto você.

- Eu...

Então ele levantou. Saiu. Há mais de uma hora. Eu, em contrapartida, continuo aqui, sentado, olhando para onde ele estava como se ainda o estivesse. Era como se seus olhos continuassem atirando violentamente contra mim algo que eu não... Mentira. Negar que sei do que ele estava falando é pior do que aceitar que sou apenas um covarde. Tão somente um covarde. Nada além de um covarde egoísta.

Um covarde egoísta. Que não quis ir em frente por permitir que os lamentos esbravejados de algum lugar interior vencessem aquilo que era o certo, naquele momento.

Que posso eu falar sobre o amor? Logo eu que bebi tanto do poço do orgulho e cerquei minha vida com muros tão altos que ninguém foi capaz de atravessar. E aqueles que tinham capacidade desistiram ao perceber que quando estavam no topo, prestes a entrar na minha vida, eram agredidos pelos meus inconscientes golpes sociopatas, antissociais e, insistentemente, egoístas.

Talvez agora que reconheci o quão egoísta sou consiga... não. Melhor não.

Deveria pedir desculpas para ele. Para ela. Para todos eles e elas que fizeram muito mais do que deveriam e, por minha culpa, saíram machucados. Deveria pedir perdão por não saber.

Por não querer.

Por não conseguir.

E, principalmente, por não ter tentado, antes, ver o que só estou conseguindo ver agora, sozinho, olhando para o nada com uma imagem ainda em mente. Aqueles olhos castanhos.

Espera.

Os olhos dele não eram castanhos.'

Silenciosa a garoa cai. Silenciosa a garoa caía. Silenciosa a garoa caía sobre seus cabelos. Silenciosos os seus cabelos caíam sobre seus olhos. Silenciosos os seus olhos choravam. Silenciosas as suas lembranças ruíam.

Silencioso, e triste, o seu coração batia.

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